Quando era mais miúda, assim pela
adolescência, adorava o surf. Nunca cheguei a practicá-lo de verdade porque era
demasiado preguiçosa e inventava desculpas. Mas comprava revistas de surf,
tinha uma assinatura anual na SurfPortugal, a parte interior da porta do meu
armário estava forrada de fotos, comprei os livros todos do Gonçalo Cadilhe. E
uma vez até obriguei o meu pai a levar-me à Costa da Caparica, porque tinha
ganho uma aula grátis num concurso qualquer da rádio. Ainda cheguei a praticar
snowboard, mas o surf foi aquele pequeno senão que me ficou atravessado.
Na faculdade, cheguei a ir uma ou outra
vez para Carcavelos com uma colega que sabia do assunto. Quatro miúdas de metro
e meio e duas pranchas de surf dentro de um Opel Corsa.
Mas, com o passar do tempo, o surf
foi perdendo lugar na minha vida, à medida que outras coisas foram surgindo. E
logo numa altura em que cada vez conheço mais gente que o pratica.
O regresso desse fantasma deu-se
há dois meses atrás, quando fui contratada pela Fox Head Europe, para o posto
de Customer Service para Portugal e Espanha. E há duas semanas os chefes nos
deram uns vídeos sobre profissionais das várias modalidades patrocinados pela
marca e o que de melhor aconteceu na temporada passada.
E, de repente, completamente
fascinada ao ver alguém entrar dentro de uma onda, com a mesma naturalidade com
que eu sorrio ao vê-lo, e sair dela recordando-me a noção de "tubo",
voltei a ser a miúda de 13 anos encantada com uma viagem de jipe pela costa
vicentina. De repente, ao ver esses vídeos, eu era de novo aquela menina de 15
anos, perdida nas leituras e fotos de praias que talvez nunca venha a visitar.
De repente o mesmo sentimento de estar a sonhar com a descoberta do mundo se
apoderou de mim.
Há sensações que felizmente não perdemos
com a idade, e que, ao voltarmos a senti-las, nos transportam no tempo. Nos
levam a sítios e momentos perdidos na memória. Nos fazem sentir que por muito
que eu mude, eu sou ainda aquela miúda que sonha com ter o mundo por
conquistar.
When I was a little girl, around my early teens, I loved surf. I never
actually practised it, because I was too lazy and had too many excuses. But I
used to buy all the surf magazines, I had an annual signature of Surf Portugal
magazine, the inside door of my wardrobe was full of pictures and I bought all
the Gonçalo Cadilhe’s books. Once I even made my father take me to a beach on
the other coast, because I had won a free class in some radio contest.
At College, I went once or twice to Carcavelos with a friend who used to
practice it. Four half-meter size girls and two surfboards inside a small Open
Corsa car.
With time, surf went on loosing its place in my life, just as other
things were taking its place. And precisely in a time when I know more and more
people doing it.
Till two months ago, when I was called to work at Fox Head Europe, for
the Costumer Service to Portugal and Spain. And two weeks, our bosses have
gifted us with some videos of professionals from the different modalities,
sponsored by Fox and what the most was done last season.
And then, totally absorbed by seeing someone getting inside a wave, with
same naturally I smile watching it, and coming out, kind of reminding me what a
“tube” was, I went back on being the 13 years old girl, conquered by a trip
down the vicentina’s coast by jeep. Suddenly, watching those videos, I was
again the 15-year-old-girl, lost in reading and photos of beaches I may never
go to. Suddenly, the same feeling of being dreaming with finding the world, has
taken the whole of me.
There are feelings that hopefully we don’t loose with age, and when we
get back to them they can take us on a time trip. Taking us to places and
moments lost in memory. Making us feel that for as much as I change, I’m still
that little girl who dreams she has the whole dam world left to conquer.
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